Realidade Aumentada em rótulos de Garrafas e Latinhas

Apesar do uso da Realidade Aumentada em rótulos de garrafas e latinhas ser algo comum na área de tecnologia, no último mês eu recebi dois vídeos de vários grupos de Whats App e percebi que esses eles tiveram grande repercussão de curiosos e até de interessados. Nossa equipe de projetos recebeu alguns pedidos de orçamentos também, por isso decidi escrever esse post para ajudar as pessoas a entenderem melhor esses exemplos do uso da tecnologia da AR ou até organizar um briefing para quem se interessar em desenvolver ou contratar alguém para desenvolver esse tipo de app (e, nesse caso, saber especificar tecnicamente tudo o que deseja no app).

Eles mostram aplicativos de Realidade Aumentada (AR, de Augmented Reality) em ação. Cada app reconhece o rótulo da garrafa e insere uma animação sobre o rótulo. O primeiro vídeo mostra o app feito para a garrafa de vinho 19 Crimes. O segundo vídeo mostra o app feito para a cerveja Leuven. O primeiro é um projeto internacional feito pela Treasure Wine States e só está disponível para iOS. O segundo é nacional, feito pela Flex Interativa, disponível para Android e iOS.

Vídeo 1: app de AR reconhecendo rótulo da garrafa de vinho 19 Crimes.

 

Vídeo 2: app de AR que reconhece o rótulo da cerveja Leuven.

 

1. O que é Realidade Aumentada?

Se você ainda não sabe o que é a tecnologia da AR, você está no lugar certo e isso será resolvido rapidamente e da forma que você preferir.

Caso prefira uma explicação em texto, é só ler este post aqui.

Agora, se preferir em vídeo, é só conferir a pílula de conhecimento abaixo que explica AR em menos de 60 segundos.

2. Elementos de uma Realidade Aumentada vs Exemplos

Agora que você já sabe o que é AR, vamos listar os elementos essenciais de um software de Realidade Aumentada:

a) Equipamento com câmera, tela e sistema operacional.

Nos dois vídeos de exemplo, o equipamento é um dispositivo móvel. Smartphones com sistema operacional Android e iOS (Leuven tem o app rodando nas duas, 19 crimes só em iOS).

b) Padrão de reconhecimento (marcador, ou em inglês, marker)

São os rótulos das garrafas.

Atenção: apesar de alguns vídeos mostrarem apenas uma animação sobre um rótulo, ambos apps possuem mais de uma animação.

Atenção 2: tecnicamente, é importante reparar que o rótulo, depois de aplicado na garrafa, passar a ser uma imagem cilíndrica do ponto de vista de reconhecimento. Falarei disso novamente daqui a pouco.

c) Conteúdo Digital

No app 19 Crimes o conteúdo digital é um vídeo, 2D. No app Leuven, o conteúdo digital são animações 3D, como o Dragão que voa ao redor da garrafa.

3. Que legal!! Isso é inédito?

Não, longe disso. A Pepsi já usou essa tecnologia no Super Bowl de 2013 e, mesmo antes disso, como também depois, várias outras marcas fizeram ações semelhantes. Nossa equipe mesmo já entregou mais de 10 projetos com AR em diferentes tipos de rótulos/reconhecimentos.

3.1 Por que esse tipo de vídeo faz tanto barulho de repente?

Não tenho a resposta exata, mas tenho algumas ideias sobre o motivo disso. A primeira é que ela surge no meio de um público que não é geek, ou seja, que não está acostumado a ver essas inovações tecnológicas no dia a dia. A pessoa usa os efeitos do Instagram, do Face, do Snapchat, mas não sabe que é a mesma tecnologia, só que com outro tipo de padrão de reconhecimento. A reação normal e, inicial, é achar fantástico, algo mágico, pois gera surpresa e impacto. A segunda é o acesso ao exemplo. Se você viu e gostou, basta baixar e brincar também. Nem sempre isso é possível para outras tecnologias.

3.2 Isso serve só para fazer barulho?

Do ponto de vista de marketing, é bem interessante. Faz o barulho no sentido de potencializar a divulgação. Várias pessoas compartilharam os vídeos em grupos e outros, assim como eu, estão escrevendo sobre o assunto. Porém, para marcas e clientes mais exigentes, nem sempre ocorre esse efeito. Algumas marcas que conheço e já atendi olhariam para os exemplos e levantariam as seguintes questões:

— ok, legal, mas o que eu estou passando de mensagem concreta da minha marca?

— o quanto essas animações/conteúdos estão casados com minha campanha atual? Isso é para aumentar nosso awareness ou tem objetivo de aumentar as vendas?

—Será que eu não estou mais divulgando a tecnologia da Realidade Aumentada do que o meu produto? Quem aparece mais no final, a cerveja (produto), a tecnologia (AR) ou o desenvolvedor do app (que muitas vezes assina o contrato para não divulgar a empresa junto com o trabalho, ou seja, lançar o app como se Pepsi tivesse desenvolvido ao invés da empresa/fornecedor de tecnologia nesse caso).

Essas perguntas representam um pensamento mais exigente, de que não basta só reconhecer o rótulo e aparecer uma animação. O app da Pepsi por exemplo agregar várias funcionalidades em que a inserção de conteúdo digital da AR é apenas o começo da interação.

 

Vídeo 3: app de AR da Pepsi para o Super Bowl.

 

4. Isso é só para marketing e entretenimento?

Não. Normalmente a área de eventos, marketing e entretenimento é a primeira a conhecer e demandar esse tipo de solução tecnológica porque tem sempre a obrigação de inovar, de trazer para um evento algo novo que não tenha rolado ainda em edições antigas. É um trabalho difícil e que exige se atualizar constantemente.

4.1 – Formados em TI vs Produtores de eventos

Recentemente fiz um workshop na Universidade da Tecnologia falando sobre Realidade Aumentada, Realidade Virtual e Holografia. Mandei para muitos programadores formados em áreas de computação e, surpresa, poucos conheciam todas essas tecnologias. Depois pensei que faz sentido, pois não é algo que entra na grade curricular em ensinos superiores de TI, portanto um desenvolvedor web que trabalha com sites e bancos de dados e não se interessa pelo assunto provavelmente não sabe da existência desses recursos e que eles estão todos disponíveis para serem usados.

Agora, um produtor da área de eventos, dificilmente não conhece essas tecnologias.

4.2 – Outras aplicações da Realidade Aumentada

Contudo, esse é só o começo. Várias aplicações consolidadas que usam essas tecnologias estão chegando para ficar. veja alguns exemplos:

a) Ferramentas de venda. Imagine um app que insere a piscina na hora para você ver ela sobre seu jardim ou espaço livre. Sem precisar de um projeto estrutural. O vendedor simular a piscina na hora ao lado do cliente.

b) Games de cards e tabuleiros. Você abre o tabuleiro, abre o app, enquadra a câmera no tabuleiro e joga virtualmente sobre o tabuleiro real. Veja esse exemplo aqui.

c) Decoração interna. A Tok&Stok já faz um app em que você consegue simular TVs, sofás e armários na sua casa ou apartamento. Veja o exemplo aqui.

d) Educação. Imagine estudar anatomia do corpo humano com um app de AR. Nem precisa imaginar muito, veja o resultado do projeto Esper aqui.

e) Engenharias. O mesmo conceito feito no exemplo acima pode ser usado para visualizar objetos frutos de engenharia em diferentes camadas e visões (como um raio-x especial por exemplo).

f) Medicina e áreas relacionadas. É possível usar um app de AR como ferramenta de auxílio em uma cirurgia, para simulação/visualização do resultado de um tratamento estético, para avaliação postural e vários outros exemplos.

Vídeo 4: app de AR usado como ferramenta de vendas.

 

5. Ah, eu quero! Como fazer um app igual a esses?

Bom, se você é curioso e quer experimentar, isso é mais fácil. Basta baixar os apps no seu celular e mirar nos rótulos. O ideal é você ter o rótulo fisicamente, ou no produto físico ou impresso, mas vou te contar um segredo: mesmo não sendo o ideal, se você mirar o rótulo da tela de algum equipamento, funciona na maioria das vezes. Faço muito isso para testar apps de Realidade Aumentada sem imprimir a tag.

Agora, se você quer encomendar um app de AR para você, seu produto ou serviço, continue lendo.

5.1 – Como solicitar um app de Realidade Aumentada

Algo muito ruim que acontece no mercado de AR, principalmente em momentos como esse, em que a pessoa vê um vídeo, se empolga, e saí querendo igual, é não saber exatamente o que quer.

5.1.1 – Briefing padrão (incompleto)

A pessoa me liga e fala: “Quero uma Realidade Aumentada”. Daí eu respondo com algumas perguntas:

— OK, você já sabe para qual plataforma você quer, por exemplo, se é para dispositivos móveis com Android e iOS, ou é para computador, web?.

Continuo:

— Você sabe qual é o padrão de reconhecimento, se uma imagem, um rótulo, ou um rosto humano? O que você quer reconhecer no app de AR?

— E o conteúdo digital, é 2D ou 3D? Tem alguma referência?

E aí o papo continua e aos poucos vou explicando e extraindo informações para conseguir orçar o projeto. Tem cliente que responde: “nossa, que difícil, não sei tudo isso, só sei que quero uma Realidade Aumentada”. Nesses casos não há muito que ser feito. O cliente precisa no mínimo se interessar e se engajar para definir todos os pontos do projeto. É uma prova de que ele está a fim mesmo de fazer o projeto. E lógico, tem clientes também bem informados (2%) que já pedem de cara algo assim:

5.1.2 – Briefing sonho de consumo (completo)

“Estou fazendo uma campanha de lançamento de um Shopping Center. Ele vai inaugurar daqui a 6 meses e quero desenvolver um app para smartphones Android e iOS em que as pessoas baixem e usem ele mirando um folder que distribuiremos no bairro. Ao mirar o folder, a pessoa verá a fachada do Shopping em 3D e depois jogará um jogo da memória em que cada carta é uma loja do Shopping. Quero coletar o nome e o e-mail de todos que usarem para fazer mailing depois”.

Sensacional! Se todo os briefings viessem assim tudo seria mais fácil, mas infelizmente o padrão do mercado não é esse. Aliás, esse é um projeto verídico e antigo. Vejam um teste de desenvolvimento dele aqui.

5.2 – Como desenvolver um app de Realidade Aumentada

Então você é mais do que curioso e quer colocar a mão na massa. Ótimo! Podemos te ajudar e já temos um post pronto para isso aqui.

5.3 – Rótulos Cilíndricos

Por fim, algo mais técnico para fechar o post.

5.3.1 – SDK

Quando você está desenvolvendo um app de AR é normal você usar um SDK (kit de desenvolvimento de software).

Um dos mais famosos para isso é  o SDK Vuforia, da Qualcomm. Nesse SDK existe uma ferramenta web chamada de Target Manager. É lá que você define seu padrão de reconhecimento. Ele pode ser uma imagem reta, como um folder, ou pode ter várias imagens, como em uma embalagem (caixa de cereais por exemplo), uma imagem cilíndrica, como o rótulo de uma garrafa ou latinha, ou ainda ser um objeto volumétrico 3D, como uma escultura.

Possíveis padrões de reconhecimento da Vuforia.

5.3.2 – Geometria plana vs cilíndrica

Muita atenção para uma diferença sutil entre um marcador plano e um cilíndrico.

Se você quiser usar um vídeo normal sobre o rótulo, a programação tem que ser feita de forma que o vídeo abrace o formato cilíndrico da garrafa.

Se o app for programado para inserir um vídeo plano, sem esse abraço virtual na garrafa, ele ficará esquisito ou, menos impactante, como nas imagens abaixo.

 

 

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Obrigado e abs,

Leandro Pinho Mental

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Sobre o Autor

Leandro Pinho Monteiro

Leandro Pinho é engenheiro de computação, graduado em Ciência da Computação na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e mestre em Engenharia da Computação na Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação (FEEC) da UNICAMP, ambas formações com foco em Computação Gráfica. Possui experiência no desenvolvimento de sistemas interativos 3D para pontos de venda, marketing e eventos. Atualmente trabalha como consultor de tecnologia e é o responsável pela coordenação dos cursos oferecidos na Universidade da Tecnologia.